José Álvaro de Lima Cardoso
Economista
Conforme nota da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a direção da Petrobrás abriu processo de leilão internacional para venda de sete sondas de perfuração. Segundo a FUP, a empresa estabeleceu como preço mínimo, de três das sete sondas, US$ 40 milhões, aquisições que, pelas quais, há cinco anos a estatal pagou US$ 720 milhões. Ou seja, o lance mínimo definido pela direção equivale a 5,6% do valor original dessas unidades. Quatro das sete sondas que serão vendidas, não chegam nem a ter preço mínimo. A direção da empresa, conforme registra a FUP, está desarticulando o setor de perfuração e sondagem. Enquanto a empresa se desfaz de equipamentos seminovos à preço de banana, gasta mensalmente milhões com aluguéis de sondas terceirizadas, o que é, na melhor das hipóteses, muito suspeito.
O desmonte da empresa está sendo providenciado com rapidez, já que a destruição da Petrobrás e a entrega do pré-sal significam o golpe dentro do golpe. Estão liquidando a política de conteúdo local (em meio à maior crise da história do capitalismo e à maior recessão registrada no país), uma lei do Congresso acabou com a exclusividade da Petrobrás na exploração e com a exigência de que a empresa brasileira participe com pelo menos 30% dos investimentos em cada um dos poços do pré-sal, como previa a lei de Partilha. Estas duas últimas medidas, encaminhadas através de Lei 4567/16, na prática, foi o cumprimento da promessa de José Serra à Chevron, de liquidar com a Lei de Partilha, feita em 2010, conforme publicado pela organização Wikileaks.
Com a votação da referida Lei, rapidamente os ativos começaram a ser vendidos. A Statoil adquiriu 66% da área de Carcará (campo que ainda não foi explorado), e a Total (francesa) comprou da Petrobrás 35% do campo da Lapa (que já está produzindo), e 22,5% dos campos de Iara (ainda em desenvolvimento).
Mas o desmonte da companhia não para por aí. Em fevereiro a direção da Petrobrás convidou somente empresas estrangeiras para participar de licitação para a construção da unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Estão vendendo o filé do patrimônio para multinacionais, à preço de banana e com ativos depreciados, condenando, de caso pensado, a empresa à produção e comercialização de óleo cru.
Na perspectiva do governo golpista não tem sentido uma empresa nacional de Petróleo, com excelência na exploração em águas profundas e ultra profundas, e com domínio amplo da sofisticada tecnologia do petróleo. A ideia desse grupo é produzir matérias-primas, as mais baratas possíveis, para ofertar à indústria dos países ricos. A Petrobrás, que nasceu de uma das maiores campanhas nacionais e populares da história do Brasil, sugere um projeto nacional de desenvolvimento, o que é antagônico ao governo Temer, de longe, o mais entreguista da história. Não se trata apenas de disponibilizar às multinacionais do Petróleo a maior descoberta de petróleo do milênio.
Estão oferecendo também às multinacionais os aquíferos brasileiros, a biodiversidade da Amazônia, minerais de todos os tipos, e terras. Como não podem ainda, vender a Petrobrás, pela possível reação que isto causaria, estão vendendo os seus ativos, na bacia das almas, aproveitando que estão depreciados em decorrência da crise mundial.
A perspectiva dos golpistas é de um retorno ao passado, quando praticamente não havia participação do Estado na economia. Não haviam políticas de saúde e educação públicas, inexistia regulamentação do trabalho, não existia política de defesa nacional. Estão aproveitando a crise para liquidar direitos, numa escalada nunca vista antes, nem na ditadura militar. A reforma trabalhista que querem aprovar, por exemplo, num país onde mesmo os direitos trabalhistas básicos são sistematicamente descumpridos, juntamente com o projeto de terceirização sem limites, irá colocar o Brasil, no que se refere à direitos trabalhistas, numa condição semelhante ao período anterior à 1930.
O neoliberalismo ultra radical que querem implantar no Brasil, fracassou em todas as partes do mundo. Claro, fracassou enquanto saída para a crise. O modelo significa empobrecimento da população, aumento do desemprego, entrega das riquezas naturais e das estatais, e redução da soberania nacional. Para os que estão implantando este tipo de política a “vitória do modelo” é exatamente a transferência dos efeitos da crise para as costas do povo trabalhador e a conversão do país à condição de Brasil Colônia ou de um protetorado dos EUA.
Na preparação do golpe, nos últimos anos, foi fomentado entre o povo o complexo de vira-latas, e se depreciou de forma sistemática tudo que poderia significar orgulho pelo País ou amor pela Pátria. A campanha foi tão eficiente, que idiotas chegaram a sair nas manifestações pró impeachment vestidos com as cores ou enrolados na bandeira dos EUA. Somente um processo sofisticado de manipulação da população poderia possibilitar o apoio a uma operação entreguista como a Lava Jato, pensada para quebrar a Petrobrás e o seu entorno, e que, somente em 2015, gerou R$ 140 bilhões em prejuízo para a economia, provocando a demissão de milhares de trabalhadores, liquidando com dezenas de projetos na área de energia, indústria naval, infraestrutura e defesa.
É que o golpe sofrido pelo Brasil não foi brincadeira. A agressão imperialista que o Brasil está sofrendo, que conta com a ativa participação de entreguistas e coveiros da democracia de dentro do país, pode se comparar às guerras contra o Iraque e a Líbia, as técnicas de desestabilização utilizadas são semelhantes. É como alertam os petroleiros, na mencionada nota, em referência ao esquartejamento da Petrobrás: “o cidadão brasileiro precisa entrar em cena e mudar o rumo dessa história, antes que a tragédia seja consolidada”.